O corpo do outro | Mia Couto
Nessa noite o corpo de um foi lençol do outro. – Mia Couto em Venenos de Deus, remédios do Diabo. Venenos de Deus remédios do Diabo
Nessa noite o corpo de um foi lençol do outro. – Mia Couto em Venenos de Deus, remédios do Diabo. Venenos de Deus remédios do Diabo
_Diga-me, Bartolomeu: o senhor está assim, fechado neste quarto, desde que soube que sua filha tinha morrido? _ A gente não sabe nunca que um filho morreu. – Mia Couto […]
_ Aquela campa lá é do meu bisavô Germack. _ E esta é a a campa de Deolinda? – pergunta Sidónio, apontando para a enferrojada âncora. _ Não. Está será […]
– Posso fazer-lhe uma pergunta íntima? – Depende – responde o português. – O senhor já alguma vez desmaiou, Doutor? – Sim. – Eu gostava muito de desmaiar. Não queria […]
– Perdi a vontade de limpar a casa. Se tivesse que arrumar não era a casa. Arrumaria, sim, as coisas que não existem, os sussurros e suspiros que se acumulam […]
Como podia descobrir o que lhe doía se todo ele era uma dor, a aflição de ser pessoa, num mundo sem lugar para pessoas? – O meu medo não é […]
O importante não é a casa onde moramos. Mas onde, em nós, a casa mora. Avô Mariano COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. Companhia das Letras, […]
Juca Sabão me pediu que me aproximasse. Seus dedos me fecharam as pálpebras como se faz aos falecidos. Certas coisas vemos melhor com os olhos fechados. COUTO, Mia. Um rio […]
Era estrangeiro não numa nação, mas no mundo. COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. Companhia das Letras, 2003.
_ Em velho, é o que mais tememos: a queda! Não é a queda no escuro da cova. Mas o cair no próprio passo, como se o osso já obedecesse […]
Assim este Deus, para mim: primeiro ausente; depois desaparecido. Fulano Malta COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. Companhia das Letras, 2003.
Cercado pelo sossego da pequena igreja me apetecia, naquele momento, deixar de ser filho, neto, sobrinho. Deixar de ser gente. Suspender o coração como que pendura um casaco velho. COUTO, […]
O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um […]
Uma mulher não pode ser ela própria nesta sociedade que se construiu como uma sociedade masculina com leis traçadas por homens e por juízes masculinos que julgam a sociedade a […]
O artista ou a artista pode dançar e expor o seu corpo se isso corresponder a uma comunicação criativa e não a um espetáculo de exibição gratuita dos seus dotes […]
Lembro-me ainda de que eu e esse velho ficámos em silêncio durante um tempo. Naqueles lugares o silêncio não suscita qualquer embaraço nem é um sinal de solidão. O silêncio […]
Num romance que estou escrevendo há uma personagem a quem perguntam: “E onde irás ser sepultado?”. E ela responde: “A minha sepultura maior não mora no futuro. A minha cova […]
A biografia é hoje um gênero literário com notável sucesso porque, no fundo, nós vivemos uma era que apela ao individualismo. Porém, de modo contraditório, vivemos num tempo em que, […]
A crença na chamada “boa sorte” faz com que nos demitamos da nossa responsabilidade individual e coletiva. Este é um problema central para o nosso desenvolvimento. Porque esta visão do […]
O que nos leva à errância quando bem podíamos ficar quietos? Essa pergunta suscita outras perguntas. Algumas delas são próximas da minha área de saber: Está o desejo da viagem […]