A crença na chamada “boa sorte” – Mia Couto

A crença na chamada “boa sorte” faz com que nos demitamos da nossa responsabilidade individual e coletiva. Este é um problema central para o nosso desenvolvimento. Porque esta visão do mundo nos leva a explicar os nossos insucessos pela existência de uma suposta mão escondida. Se falhamos é porque alguém tramou um mau-olhado. Não nos assumimos como cidadãos fazedores e responsáveis. Não produzimos o nosso destino: mendigamos as forças poderosas que estão para além de nós. Ficamos à espera da bênção e do bafejo da boa fortuna. Tudo isto tem a ver com algo mais abrangente e mais sofisticado que é a teoria do complô. Satisfazemo-nos em explicar tudo por razões de alguma conspiração urdida nas nossas costas.

Mia Couto em E se Obama fosse africano?