Entre os limites de idade de nove e catorze anos (…).
Tampouco a beleza serve como como critério; e a vulgaridade, ou pelo menos aquilo que determinados grupos sociais entendem como tal, não é necessariamente incompatível com certas características misteriosas, a graça preternatural, o charme imponderável, volúvel, insidioso e perturbador que distingue a ninfeta das meninas de sua idade. (…)
Confrontando uma fotografia de um grupo de escolares ou escoteiras e solicitado a apontar a mais bonita entre elas, um homem normal não escolherá necessariamente uma ninfeta. É necessário ser um artista ou um louco, um indivíduo infinitamente melancólico, com uma bolha de veneno queimando-lhe as entranhas e uma chama super voluptuosa ardendo eternamente em sua flexível espinha (ah, quantas vezes a gente se encolhe de medo, se esconde!), a fim de discernir de imediato com base em sinais inefáveis – a curva ligeiramente felina de uma maçã do rosto, uma perna graciosa coberta de fina penugem, e outros indícios que o desespero, a vergonha e lágrimas de ternura me impedem de enumerar – , o pequeno e fatal demônios em meio às crianças normais.
– Vladimir Nabokov em Lolita.