Sou de um tempo em que o que éramos era medido pelo que fazíamos. Hoje o que somos é medido pelo espetáculo que fazemos de nós mesmos, pelo modo como nos colocamos na vitrine. O CV, o cartão de visitas (cheio de requintes e títulos), a bibliografia de publicações que quase ninguém leu, tudo isso parece sugerir uma coisa: a aparência passou a valer mais do que a capacidade para fazermos coisas. Muitas das instituições que deviam produzir ideias estão hoje produzindo papéis, atafulhando prateleiras de relatórios condenados a serem arquivo morto. Em lugar de soluções encontram-se problemas. Em lugar de ações sugerem-se novos estudos.

– Mia Couto em E se Obama fosse africano?