. (…) Freud considerava o seu livro “A interpretação dos Sonhos” como a chave de sua obra. “A interpretação dos sonhos”, disse enfaticamente, “é a via régia de acesso ao conhecimento do inconsciente na vida mental”.
. (…) ele recomendava o método catártico de Breuer, conforme fora refinado e modificado pela sua própria prática: o sonhador deve empregar a associação livre, renunciando à sua costumeira crítica racional aos meandros mentais, para reconhecer o sonho pelo que ele é – um sintoma.
Freud declarava ter interpretado mais de mil sonhos seus e de seus analisandos com o uso de tal técnica. Disso extraíra uma lei geral: “O sonho é uma realização dos desejos”.
. Um sonho alimenta-se invariavelmente de materiais recentes, mas, com a interpretação, ele leva a um passado mais distante;. por mais bizarro ou delicado que seja o enredo lembrado, ele aponta para questões de importância fundamental para quem sonha. “Não existem”, concluiu Freud incisivamente, num tom um pouco ameaçador, “instigadores oníricos indiferentes; portanto, tampouco existem sonhos inocentes”.
. Qualquer sonho que tomo em mãos, meu ou de outro, a cada vez confirma essa experiência”. Esses “restos diurnos”, como ele os chamava, frequentemente proporcionavam o acesso mais fácil à interpretação de um sonho.
. (…) no entanto, em praticamente todos os casos, o sonho, em última análise, retira seus componentes essenciais dos dias de infância de quem sonha.
. Os principais instrumentos na caixa de ferramentas do trabalho do sonho são a condensação, o deslocamento, e o que Freud chamou de “preocupação com a representabilidade”. Eles não são exclusivos dos sonhos, mas podem ser detectados na formação dos sintomas neuróticos, lapsos linguísticos e chistes.
. Enquanto a condensação não precisa envolver a censura, o trabalho de deslocamento é o local por excelência desta. A censura atua inicialmente para reduzir a intensidade das paixões que ardem para se expressar, e a seguir para transformá-las. Assim, o deslocamento permite que essas paixões, por mais mutiladas que muitas vezes apareçam em seu disfarce público, escapem à resistência mobilizada pela censura.
. (…) Freud nunca hesitou em afirmar que, na base de todos os sonhos, existe um desejo infantil e, ao mesmo tempo, aquilo que a sociedade respeitável provavelmente chamaria de indecente.
– Peter Gay em Freud: uma vida para o nosso tempo.