Sobre o personagem João da Ega:
(…) era considerado em Celorico, mas também na Academia que ele espantava pela audácia e pelos ditos, como o maior ateu, o maior demagogo, que jamais aparecera nas sociedades humanas. Isto lisonjeava-o: por sistema exagerou o seu ódio à Divindade e a toda a Ordem Social: queria o massacre das classes médias, o amor livre das ficções do matrimônio, a repartição das terras, o culto de Satanás.
O esforço da inteligência neste sentido terminou por lhe influenciar as maneiras e a fisionomia; e, com a sua figura esgrouviada e seca, os pelos do bigode arrebitados sob o nariz adunco, um quadrado de vidro entalado no olho direito – tinha realmente alguma coisa de rebelde e de satânico.
– Eça de Queirós em Os Maias.