A indiferenciação, ou melhor, o apagamento de fronteiras antes entendidas como relativamente exclusivas é, talvez, uma marca bem característica de nossa modernidade tardia. Fronteiras nacionais, culturais, identitárias, sexuais, comerciais, lingüísticas estão em vias de desaparecimento e, com elas, aquelas que delimitavam os espaços do público e do privado, aqueles até então não completamente intercambiáveis da visibilidade e o da intimidade. É verdade que todo este movimento vai de par com a afirmação de localismos identitários; com a radicalização dos pertencimentos étnicos ou nacionais, com a ressurgência de fundamentalismos e integrismos de toda ordem etc.
Mas o apagamento de fronteiras vai bem além daquelas assinaladas entre o público e o privado, entre a intimidade e a Cidade, e somos constrangidos a aceitar que ele atinge um domínio cujas conseqüências ainda estamos longe de avaliar corretamente e que, com certeza, recairão sobre tudo o que imaginamos pertencer ao "pedagógico": aquelas que separavam o adulto da criança e que, de uma certa forma, nos acostumamos a pensá-las como "natural".
Joshua Meyrowitz nos mostra que um tal embaralhamento de fronteiras só foi possível porque "nestes últimos trinta anos, a imagem e o papel da criança mudaram consideravelmente. A infância enquanto período de vida protegida e ao abrigo das preocupações praticamente desapareceu", e não hesita em nomear esta tendência de "fim da infância", essencialmente ligada à nossa passagem de uma cultura livresca à uma cultura televisiva.