Flávio Brayer – Da criança cidadã ao fim da infância

Sabemos que uma das críticas mais constantes feitas à escola contemporânea é sua incapacidade de tratar, no seu interior, a diversidade de demandas, de interesses, de motivações; seu atraso em relação à emergência de novos contextos sociais, culturais, econômicos; seu aspecto autoritário, onde os "jovens" não são ouvidos nem respeitados em suas solicitações. Junte-se a isto o fato de ela se encontrar, hoje, numa situação de "déficit de promessa": em troca das horas enfandonhas passadas diante de um professor; dos meses e anos de cursos, tarefas, obrigações, leituras, avaliações… o que a escola oferece? Houve um tempo em que a passagem pela escola representava a promessa de inserção profissional, para uns, de acesso aos postos da administração, para outros, de capitalização simbólica e distinção social ou simplesmente de formação do "espírito". Mas estas promessas já não são inteiramente realizáveis e, por exemplo, a relação entre escolaridade e empregabilidade tornou-se dramaticamente frágil e instável. Daí por que qualquer experiência escolar que invista minimamente no "respeito" aos alunos, na escuta de sua "palavra", no atendimento de suas urgentes necessidades sociais, culturais, identitárias é logo vista como um caminho desejável e a ser perseguido, encontrando imediata recepção nos meios que, por razões muito diversas, são sensíveis aos problemas de uma sociedade particularmente complexa e às voltas com crescentes problemas de exclusão e desigualdade.
A ausência de diálogo e de democracia são, por assim dizer, temas transversais neste tipo de inquietação e crítica, já que a escola seria uma espécie de território do mesmo: conteúdos iguais para todos e em detrimento de seus interesses, um modelo único de racionalidade, uma tábua de valores etnocêntricos, um sistema de avaliação homogeneizante; em suma, sua impotência para tratar com o plural, o diferente, o diverso.

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