Carta de um exibicionista

O psiquiatra americano Frank Caprio e o advogado Donald Brenner publicaram esta carta de um exibicionista indiano desesperado por atendimento.

Sou uma criatura infeliz que implora por sua ajuda. No dia-a-dia, sou um homem normal que trabalha (como balconista de banco) de um modo irrepreensível. Durante dois ou três meses tudo vai bem, mas então, de repente, sou atacado por uma espécie de angústia que me leva a gastar horas a fio andando sem rumo pelas rumas. Sei que isso está longe ser bom. Certa vez, quando senti a chegada de um ataque, refugiei num hospital psiquiátrico, pensando escapar do inevitável desse modo. Infelizmente, às noves horas da noite, o impulso foi muito forte para mim. Eu estava bem lúcido, mas aquele homem que subiu nas grades e pulou para o lado de fora não era eu. Fui impelido por uma força invisível a que não pude resistir. Sem fôlego, corri até a periferia da cidade. Lá, numa rua deserta, vi uma garota se aproximar ao longe. Escondi-me, e o resto eu sei pelo boletim da ocorrência policial. Assim que me vi  mais perto dela, abri as calças, expus os meus genitais e comecei a me masturbar. Lembro-me vagamente de que os olhos muito abertos da menina e a sua expressão de terror me excitaram a tal ponto que ejaculei imediatamente. No mesmo instante eu me recompus e tentei fugir, mas caí nas mãos da polícia.

Peço aos senhores que me digam se sou louco, se devia ser trancado num hospício, já que não posso ser responsável pelos meus atos. Peço aos senhores, também, que expliquem aos juízes que não sou depravado, como eles dizem, mas uma criatura infeliz que está sofrendo e foi castigada duramente pela natureza.

– Brett Kahr em Conceitos da Psicanálise – Exibicionismo.