Empatia e ética: As raízes do altruísmo – Daniel Goleman

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

Este é um dos versos mais famosos da literatura inglesa. O sentimento de Johnn Donne fala do cerne da ligação entre empatia e envolvimento: a dor do outro é nossa. Sentir com o outro é envolver-se. Neste sentido, o oposto de empatia é antipatia. A atitude empática empenha-se interminavelmente em  julgamentos morais, pois os dilemas morais envolvem vítimas em potenciais. Deve-se mentir para evitar ferir os sentimentos de um amigo? Deve-se manter o compromisso de visita a um amigo doente ou, ao contrário, aceitar um convite de última hora para jantar? Até quando devem ser ligados os aparelhos hospitalares que mantêm a vida de alguém?

Essas questões morais são colocadas pelo pesquisador de empatia Martin Hoffman, que afirma que as raízes ética estão na empatia, pois é o sentir empatia com as vítimas potenciais – alguém que sofre, que está em perigo, ou que passa por privação, digamos – é, portanto, partilhar de sua aflição que leva as pessoas a agirem para ajudá-las. Além  dessa ligação imediata entre empatia e altruísmo nos encontros pessoais, Hoffman sugere que a própria capacidade de afeto empático, de colocar-se no lugar de outra pessoa, leva as pessoas a seguir certos princípios morais.

Hoffman vê o um desenvolvimento natural da empatia a partir da infância. Como vimos, com um ano de idade, a criança se sente aflita quando vê outra cair e começar a chorar; sua relação é tão forte e imediata que ela põe o polegar na boca e enterra a cabeça no colo da mãe, como se fosse ela a machucada. Depois do primeiro ano, quando os bebês se tornam conscientes de que são distintos dos outros tentam ativamente consolar um outro que chora, oferendo-lhe ursinhos de pelúcia, por exemplo. Já aos dois anos as crianças começam perceber que os sentimentos dos outros não são os seus e, co isso, se tornam mais sensíveis a indícios que revelam que o outro de fato sente; nessa altura, podem, por exemplo. reconhecer que o orgulho de outra criança pode significar que a melhor maneira de ajudá-la a lidar com suas lágrimas e não  chamar indevida atenção para elas.

No fim da infância, surgem os mais elevados níveis de empatia, pois as crianças são capazes de entender a aflição  que está além de um acontecimento específico de aflição permanente. Nesse ponto, as crianças podem perceber as circunstâncias de todo um grupo, como os pobres, os oprimidos, os marginalizados. Essa compreensão, na adolescência ia, pode reforçar convicções morais centradas na vontade de aliviar o infortúnio e a injustiça.

A empatia é o suporte de muitas facetas de julgamento e a ação morais. Uma delas é a “raiva empática”, que Stuart Mill descreveu como “o sentimento natural de retaliação… tornado pelo intelecto e a simpatia aplicável… aos sofrimentos que nos ferem por ferir outros”; Mill chamou isso de “guardião da justiça”. Outro exemplo em que a empatia conduz à ação moral é quando um circunstante é levado a intervir a favor de uma vítima, maior a probabilidade de vir e intervir. Há algum indício de que o nível de empatia que as pessoas sentem também afeta seus julgamentos morais. Por exemplo, estudos na Alemanha e nos Estados Unidos constataram que, quanto mais empáticas as pessoas, mais fortalecido, para elas, o princípio moral segundo o qual a riqueza deva ser distribuída conforme a necessidade de cada um.

– Daniel Goleman em Inteligência emocional: a teoria revolucionária que define o que é ser inteligente.