Epidemia de mau-humor

Identificado pela Organização Mundial de Saúde, divulgado pela mídia com a estatística alarmante de que 5,3 milhões de brasileiros estão “contaminados” , o mau humor, codinome distimia, é mais uma daquelas doenças em que a pessoa não sabe que está doente, mas é diagnosticada graças ao “aprimoramento” da psiquiatria médica.

Atribuindo  a causa a disfunção cerebral e genética, os teóricos do mau humor recomendam a clássica dobradinha remédio-terapia adaptativa a todo e qualquer distímico. O que acontece é que, em nome de um equilíbrio universal do humor, eles supõem a existência de uma natureza fora do contexto sociocultural. A ideia de que o mau humor cai de paraquedas na cabeça da pessoa reforça tão somente a apatia que esta de manter ao invés de recriar a sua vida íntima e suas relações familiares, institucionais e sociopolíticas.

Eduardo Ponte Brandão, psicanalista e psicólogo e professor mestre.