Divirta-se por a julgarem importante. Divirta-se deixando que as outras pessoas cuidem do mundo, enquanto você está produzindo um dos seus novos membros. Divirta-se com a sua própria concentração interior, quase enamorada de si própria – o bebê é uma parcela tão próxima de si. Divirta-se com a maneira com que seu homem sente-se responsável pelo bem-estar tanto seu como do bebê. Divirta-se descobrindo coisas novas a seu próprio respeito. Divirta-se tendo mais direito do que jamais conseguiria ter, antes de fazer justamente aquilo que acha bom. Divirta-se quando fica contrariada porque os gritos e prantos do seu bebê o impedem de aceitar o leite que você anseia dar com generosidade. Divirta-se com toda a espécie de sentimentos femininos que você não pode nem sequer começar a explicar a um homem. Em particular, sei que a leitora vai adorar os sintomas que gradualmente irão aparecendo, de que o bebê é uma pessoa e de que você é reconhecida como uma pessoa pelo bebê.
Desfrute tudo isso para seu próprio prazer, mas prazer que você pode extrair do complicado negócio de cuidar de uma criança é importante do ponto de vista do bebê. O bebê não quer tanto que lhe deem a alimentação correta na hora correta exata, como, sobretudo, ser alimentado por alguém que ama alimentar seu próprio bebê.
O bebê aceita como coisas naturais a maciez das roupas ou a temperatura correta da água do banho. O que ele não pode dispensar é o prazer da mãe que acompanha o ato de vestir ou de dar banho ao seu próprio bebê. Se tudo isso lhe dá prazer, é algo como o raiar do sol para o bebê. O prazer da mãe tem que estar presente nesses atos ou então tudo o que fizer é monótono, inútil e mecânico.
Esse prazer, que surge naturalmente no processo normal, pode sofrer, sem dúvida, a interferência de outras preocupações, e estas dependem muito da ignorância. É algo como os métodos de relaxamento para facilitar o parto, sobre os quais você, mãe, já leu alguma coisa. As pessoas que escrevem tais livros fazem tudo o que podem para explicar o que acontece durante a gravidez e o parto, de modo que as mães possam descontrair-se, isto é, deixar de preocupar-se com o desconhecido e como confiar-se em processos naturais. Grande parte da dor do parto normal não pertence ao parto em si, mas à contração resultante do medo do desconhecido. Tudo isso lhe é explicado e se você tem um bom médico e enfermeira ao alcance, poderá suportar a dor que não pode ser evitada.
Do mesmo modo, após o nascimento da criança, o prazer que você sente ao cuidar do bebê depende de não haver tensões e nem preocupações causadas pela ignorância e medo.
– D. Winnicott em A criança e seu mundo.