A análise anamnésica tem grande importância como terapia e também como método de pesquisa. Consiste praticamente em uma anamnese ou reconstrução cuidadosa do desenvolvimento histórico da neurose. O material obtido por este processo é uma série de fatos mais ou menos coerentes, que o paciente conta ao médico conforme é capaz de recordar-se deles. O paciente, como é de esperar, omite certas particularidades que lhe parecem sem importância ou que esqueceu. O analista experiente, que conhece o decurso comum da evolução de uma neurose, propõe certas perguntas ao paciente, mediante as quais possam ser preenchidas as lacunas ou os nexos insuficientes. Muitíssimas vezes este procedimento já apresenta valor terapêutico, pois habilita o paciente a entender melhor os fatores principais de sua neurose e pode mesmo, em certas situações, ajudá-lo a modificar de maneira decisiva sua atitude. Naturalmente é inevitável, ou até mesmo necessário, que o médico não se contente em inquirir o paciente, mas lhe forneça também certas pistas e explicações para esclarecer certas conexões importantes que permaneceram inconscientes para ele. Durante minha atuação como médico sanitarista militar, tive mais oportunidades de empregar esta modalidade do método anamnésico. Por exemplo, certa vez um recruta de dezenove anos foi dado como doente. Logo que o rapaz se aproximou de mim declarou diretamente que sofria de inflamação nos rins e que a dor sentida provinha dessa doença. Admirei-me de que ele conhecesse tão bem seu diagnóstico; retrucou ele que um tio dele padecia do mesmo mal e tinha as mesmas dores nas costas. O exame não revelou nenhum sinal de doença orgânica. Tratava-se evidentemente de neurose. Comecei, por isso, a indagar sobre a história de sua vida. O mais importante era que o rapaz havia perdido bem cedo os pais e que vivia em companhia desse tio. O tio era seu pai de criação. Ele gostava muito do tio. Um dia antes de declarar-se doente havia recebido uma carta do tio, em que ele comunicava estar novamente acamado por causa de sua nefrite. A carta era desagradável, e ele a jogou fora imediatamente, sem tornar real a verdadeira razão da emoção que pretendia recalcar. Era o grande medo de que seu pai de criação pudesse morrer, e isso fazia voltar-lhe à memória a dor sentida pela perda dos pais. Quando ele tornou real essa dor, desatou a chorar violentamente. O resultado foi que no dia seguinte pôde retomar o serviço. Tinha ocorrido uma identificação com seu tio, que foi descoberta pela anamnese. O fato de tornar reais os sentimentos reprimidos teve efeito terapêutico.
– Carl Jung em O desenvolvimento da personalidade.