O “humanismo” da mercadoria | Guy Debord

Ainda que na fase primitiva da acumulaçăo capitalista “a economia política năo veja no proletário senăo o operário” que deve receber o mínimo indispensável para a conservaçăo da sua força de trabalho, sem nunca o considerar «nos seus lazeres, na sua humanidade”, esta posiçăo das ideias da classe dominante reinverte-se assim que o grau de abundância atingido na produçăo das mercadorias exige um excedente de colaboraçăo do operário.

Este operário, subitamente lavado do desprezo total que lhe é claramente feito saber por todas as modalidades de organizaçăo e vigilância da produçăo, reencontra-se, cada dia, fora desta, aparentemente tratado como uma grande pessoa, com uma delicadeza obsequiosa, sob o disfarce do consumidor. Entăo o humanismo da mercadoria toma a cargo os “lazeres e humanidade” do trabalhador […]

[…] O consumidor real torna-se um consumidor de ilusões. A mercadoria é esta ilusão efetivamente real, e o espectáculo a sua manifestação geral.

Guy Debord em A sociedade do espetáculo.