“Ele é um dos maiores médicos, um gênio e um homem sério, abala profundamente minhas ideias e intenções”.
“Se a semente algum dia vai dar frutos, não sei; o que sei com certeza é que nenhum outro ser humano jamais agiu sobre mim dessa forma”.
“O momento em que ele aparecia mais grandioso para seus ouvintes era depois de ter se esforçado, apresentando detalhadamente seu raciocínio com a maior franqueza sobre suas dúvidas e hesitações, em reduzir a distância entre professor e aluno”.
Como conferencistas e defensor, Freud, que explorava habilmente suas próprias incertezas, procederia da mesma forma.
Charcot era muito mais que um ator. Ao mesmo tempo luminar da medicina e celebridade social, gozando de um prestígio sem par, ele havia diagnosticado a histeria como uma verdadeira enfermidade, ao invés do refúgio dos doentes imaginários. E mais, havia reconhecido que a histeria – ao contrário de todas as ideias tradicionais – aflige tanto os homens quanto as mulheres. E ainda mais ousado, Charcot resgatara a hipnose das mãos dos curandeiros e charlatões, para aplicá-la de modo consequente no tratamento de doenças mentais. Freud ficou assombrado e impressionado ao ver Charcot induzindo e curando paralisias histéricas através da sugestão hipnótica direta.
E, sustentava Charcot, o estado hipnótico só pode ser provocado em histéricos. Mas uma escola rival em Nancy, inspirada por Ambroise Auguste Liébeault, um obscuro médico particular, e pelo seu ativo e prolífico seguidor Hippolyte Berbheim, acreditava outra linha: a hipnose é uma mera questão de sugestão; portanto quase todos devem ser suscetíveis a ela.
Foi a principal lição que Charcot tinha a transmitir: a obediência submissa do cliente aos fatos não é a adversária, mas a fonte e a servidora da teoria.
– Peter Gay em Freud: uma vida para o nosso tempo.