Esquizoanálise – Lúcia Navarro

Psicanálise após um banho de real” assim alguns se referem à esquizoanálise. De fato, a esquizoanálise não pode ser definida como uma teoria, tampouco como uma especialidade ou como um modelo teórico. Ela não é um conjunto de conceitos que um especialista estuda e aplica a uma prática socialmente delimitada, com resultados localizáveis e manipuláveis. Ela é, antes, uma espécie de “caixa de ferramentas” que pode inspirar uma compreensão dos fenômenos psico-sociais-históricos-políticos e agenciar práticas que fujam à ordem cotidiana, rompendo com os saberes instituídos em troca de um saber subterrâneo, rizomático.

Esquizoanálise foi um termo cunhado por Gilles Deleuze e Félix Guattari, após lançamento do livro “O Anti-Édipo”, em 1972, para designar um conjunto de críticas à psicanálise tradicional, bem como um novo instrumento para decifrar a subjetividade. As críticas centravam-se na redução do inconsciente a uma cena de teatro (Édipo) e na prevalência de explicações parentais e familiaristas. Ao contrário, Deleuze e Guattari pensavam o inconsciente como uma usina, totalmente aberto à fabricação do real, no qual Édipo não é considerado um fenômeno universal e sim é explicado a partir da cultura. Ou seja, a esquizoanálise demonstra que o desejo está atrelado à produção social e procura “desedipianizar” o inconsciente, denunciando as formas de produção de subjetividade da sociedade capitalista.