No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, e a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, de ser inteligente para entre a família, e de não ter as esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é terem vendido a casa, é terem morrido todos, é estar eu sobrevivente a mim mesmo como um fósforo frio…
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez, por uma viagem metafísica e carnal, como uma dualidade eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
As tias velhas, os primos diferente, e tudo era por minha causa, no tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Para, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó Meu Deus, Meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na Algibeira!…
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!…
– Álvaro de Campos é um dos heterônimos mais conhecidos do poeta português Fernando Pessoa.